Entrevista com... Chico Zé!
Chico Zé
O antigo jogador do principal emblema de Faro recorda a importância e o contributo da zona do Alto Rodes para o futebol da cidade e acredita ver o Farense a disputar a I Divisão num futuro próximo.
O Algarve (OA) – O que é feito de si Chico Zé?
Chico Zé (CZ) – Depois de ter abandonado completamente o futebol, já lá vão uns anos, estive a trabalhar na Honda como vendedor agora estou ligado ao Futebol Clube Vitória que funciona como a sociedade recreativa do Alto Rodes. Sou vice-presidente do clube e posso dizer que esta é a minha segunda casa.
OA – Fala do Alto Rodes com muito carinho.
CZ – É natural, fui aqui criado e o Alto Rodes há alguns anos atrás era uma verdadeira fonte de jogadores. Houve uma equipa de juniores do Farense a seguir à minha em que os onze jogadores eram do Alto Rodes, ainda me recordo que nessa altura o treinador era o Joaquim Reina.
OA – E saíram daqui muitos jogadores para o Farense?
CZ – Na altura não havia escolinhas, nem sequer infantis ou iniciados, só juvenis e juniores. Muitos dos jogadores que apareciam eram provenientes daqui, aliás, o Alto Rodes era a escola de formação do Farense.
OA – Como é que isso acontecia?
CZ – Nesses tempos as ruas ainda não eram de alcatrão e inclusive havia um campo de futebol de terra aqui próximo, onde hoje está situada a Avenida Calouste Gulbenkian, e nós passávamos os dias inteiros a jogar à bola nas ruas.
OA – Assim sendo os amigos de infância encontravam- se no Farense?
CZ – Posso dizer que os meus irmãos jogaram todos no Farense, tal como eu, e recordo-me de jogar com o Baia, o Joaquim Sequeira, o Pedro Aleixo, entre muitos outros.
OA – Enquanto jogador do Farense esteve perto de se transferir para outro clube?
CZ – Sim, mas na altura [início dos anos 70] não se podia sair do clube. Só no caso desse mesmo clube não estar interessado na continuidade do jogador. Por Lei só havia duas razões que permitiam a saída do clube: por motivos militares ou escolares.
OA – E aí surgiu a Académica.
CZ – Sim, a Académica era um clube que permitia aos seus atletas continuar os estudos e na segunda época de júnior estive quase a ir para Coimbra, ainda cheguei a treinar à experiência mas acabei por ficar cá.
OA – Porquê?
CZ – Era muito longe e eu sentia-me sozinho lá. Para além disso, quando saí de Algarve para ir treinar na Académica pela primeira vez, eu estava na praia de Faro e quando cheguei a Coimbra estava a chover, achei que o melhor mesmo seria voltar…
OA – E optou por fazer carreira no Farense?
CZ – Estive no clube entre os 15 e os 28 anos, pelo meio cumpri o serviço militar, e enquanto estava na tropa ainda ajudei o Sambrazense a manter-se na III Divisão, com a devida autorização do Farense que nessa altura estava na I Divisão.
OA – A seguir ao Farense seguiram-se outros clubes?
CZ – Estive no Silves quatro épocas, intercaladas por uma passagem pelo Campeinense, e já com 33 anos voltei ao clube de Loulé, mas uma lesão no joelho fez com que terminasse a carreira.
OA – Foi aí que abandonou o futebol?
CZ – Ainda fui treinador nas camadas jovens do Farense, mas deixei o futebol porque perdia dinheiro como treinador. O Farense pagavame 40 contos por mês e eu já tinha juniores a ganhar 80 contos, como era o caso do Lima ou o Jorge Soares.
OA – Está completamente afastado do futebol?
CZ – Sim, a nível desportivo limito-me a acompanhar as equipas de Faro: o Farense, o 11 Esperanças, Salgados e Faro e Benfica. E na Sociedade do Alto Rodes entramos em torneios de setas, snooker e este ano vamos fazer uma equipa de futebol de cinco para participar nos torneios de Verão.
“Acredito que o Farense vai voltar à I Divisão”
OA – Representou o Farense muitos anos, hoje como vê o clube?
CZ – Com a venda do estádio acredito que vão realizar um bom encaixe financeiro e dependendo da gestão do clube acredito que vão voltar à I Divisão.
OA – O que se passou com o clube?
CZ – O Farense foi muito mal gerido nos últimos anos, de uma maneira incompreensível.
OA – O Algarve está órfão de futebol de primeira…
CZ – É muito triste o Algarve não ter nenhum clube na I Divisão, seria algo muito importante para Faro e para a própria região.
OA – Acredita na fusão de equipas para representar o Algarve?
CZ – Era bonito surgir uma equipa única do Algarve, competitiva, mas a rivalidade entre os adeptos torna isso muito difícil, diria mesmo impossível.
Entrevista de jornalregional
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