Entrevista com... Chico Zé!

De pé: Barroca, Ferreira Pinto, Almeida, Atraca, Conceição e Caneira. Em baixo: Ernesto, Farias, Adilson, Chico Zé e Sério.

Chico Zé

O antigo jogador do principal emblema de Faro recorda a importância e o contributo da zona do Alto Rodes para o futebol da cidade e acredita ver o Farense a disputar a I Divisão num futuro próximo.

A história começa no interlúdio das décadas de 50 60, quando Chico Zé – como é conhecido na cidade e no meio do futebol – começou dar os primeiros pontapés na bola, perto da sua casa, juntamente com outros miúdos da sua idade. Muitos deles viriam a tornar-se jogadores da equipa principal do Farense. Foi o caso de Chico Zé, actualmente com 55 anos, que ainda hoje mantém forte as ligações ao Alto Rodes onde é vice-presidente do Futebol Clube Vitória. Depois de ter representado o Farense, entre os 15 e os 28 anos, espera voltar a ver de novo clube na I Divisão e lamenta ausência de um emblema do Algarve no palco principal do futebol português.

O Algarve (OA) – O que é feito de si Chico Zé?

Chico Zé (CZ) – Depois de ter abandonado completamente o futebol, já lá vão uns anos, estive a trabalhar na Honda como vendedor agora estou ligado ao Futebol Clube Vitória que funciona como a sociedade recreativa do Alto Rodes. Sou vice-presidente do clube e posso dizer que esta é a minha segunda casa.

OA – Fala do Alto Rodes com muito carinho.

CZ – É natural, fui aqui criado e o Alto Rodes há alguns anos atrás era uma verdadeira fonte de jogadores. Houve uma equipa de juniores do Farense a seguir à minha em que os onze jogadores eram do Alto Rodes, ainda me recordo que nessa altura o treinador era o Joaquim Reina.

OA – E saíram daqui muitos jogadores para o Farense?

CZ – Na altura não havia escolinhas, nem sequer infantis ou iniciados, só juvenis e juniores. Muitos dos jogadores que apareciam eram provenientes daqui, aliás, o Alto Rodes era a escola de formação do Farense.

OA – Como é que isso acontecia?

CZ – Nesses tempos as ruas ainda não eram de alcatrão e inclusive havia um campo de futebol de terra aqui próximo, onde hoje está situada a Avenida Calouste Gulbenkian, e nós passávamos os dias inteiros a jogar à bola nas ruas.

OA – Assim sendo os amigos de infância encontravam- se no Farense?

CZ – Posso dizer que os meus irmãos jogaram todos no Farense, tal como eu, e recordo-me de jogar com o Baia, o Joaquim Sequeira, o Pedro Aleixo, entre muitos outros.

OA – Enquanto jogador do Farense esteve perto de se transferir para outro clube?

CZ – Sim, mas na altura [início dos anos 70] não se podia sair do clube. Só no caso desse mesmo clube não estar interessado na continuidade do jogador. Por Lei só havia duas razões que permitiam a saída do clube: por motivos militares ou escolares.

OA – E aí surgiu a Académica.

CZ – Sim, a Académica era um clube que permitia aos seus atletas continuar os estudos e na segunda época de júnior estive quase a ir para Coimbra, ainda cheguei a treinar à experiência mas acabei por ficar cá.

OA – Porquê?

CZ – Era muito longe e eu sentia-me sozinho lá. Para além disso, quando saí de Algarve para ir treinar na Académica pela primeira vez, eu estava na praia de Faro e quando cheguei a Coimbra estava a chover, achei que o melhor mesmo seria voltar…

OA – E optou por fazer carreira no Farense?

CZ – Estive no clube entre os 15 e os 28 anos, pelo meio cumpri o serviço militar, e enquanto estava na tropa ainda ajudei o Sambrazense a manter-se na III Divisão, com a devida autorização do Farense que nessa altura estava na I Divisão.

OA – A seguir ao Farense seguiram-se outros clubes?

CZ – Estive no Silves quatro épocas, intercaladas por uma passagem pelo Campeinense, e já com 33 anos voltei ao clube de Loulé, mas uma lesão no joelho fez com que terminasse a carreira.

OA – Foi aí que abandonou o futebol?

CZ – Ainda fui treinador nas camadas jovens do Farense, mas deixei o futebol porque perdia dinheiro como treinador. O Farense pagavame 40 contos por mês e eu já tinha juniores a ganhar 80 contos, como era o caso do Lima ou o Jorge Soares.

OA – Está completamente afastado do futebol?

CZ – Sim, a nível desportivo limito-me a acompanhar as equipas de Faro: o Farense, o 11 Esperanças, Salgados e Faro e Benfica. E na Sociedade do Alto Rodes entramos em torneios de setas, snooker e este ano vamos fazer uma equipa de futebol de cinco para participar nos torneios de Verão.

“Acredito que o Farense vai voltar à I Divisão”

OA – Representou o Farense muitos anos, hoje como vê o clube?

CZ – Com a venda do estádio acredito que vão realizar um bom encaixe financeiro e dependendo da gestão do clube acredito que vão voltar à I Divisão.

OA – O que se passou com o clube?

CZ – O Farense foi muito mal gerido nos últimos anos, de uma maneira incompreensível.

OA – O Algarve está órfão de futebol de primeira…

CZ – É muito triste o Algarve não ter nenhum clube na I Divisão, seria algo muito importante para Faro e para a própria região.

OA – Acredita na fusão de equipas para representar o Algarve?

CZ – Era bonito surgir uma equipa única do Algarve, competitiva, mas a rivalidade entre os adeptos torna isso muito difícil, diria mesmo impossível.

Entrevista de jornalregional

1 comentário

Jorge Casinha disse...

Ai, ai, é bem bom recordar estes bons velhos tempos. Eu também morei no Alto Rodes, e milhentas vezes fui jogar a esse famoso campo de futebol, de areia, e com um poste de electricidade no meio, hahahahaha, bem chato em certas jogadas, onde hoje passa a circular.
Eu morava perto da casa daquela que viria a ser a mulher do Chico Zé, bem a um canto desse belo bairro do Alto Rodes, o qual tenho muitas e boas recordações, e também muitas saudades.

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